De
Plutão a Plutinho
Tanto
que fizeram que conseguiram destituir Plutão do título de último planeta do
sistema solar. Eu sabia. Sabia que o título não mais ia durar. A pressão tava
demais. Tadinho.
Mas
também, o zinho pediu para ser rebaixado.
Descoberto
em 1930, o (ex) planeta das profundezas guarda em si características bem
irreverentes. É um tiquinho de matéria, mas descabidamente galhofeiro.
Primeira,
não é visível a olho nu. Anda por aí de flozô sem que a gente, concretamente o perceba. Este
fato contou muito para a sua queda. Não lhe foi possível o apoio popular. Ficou
difícil mobilizar simpatias por uma coisa que a gente não vê. Estamos
acostumados ao concreto, ao palpável. Como certificar um ente que não está ali
para impregnar de luz, mesmo que discretamente, a nossa pupila? Plutão é
produto dos segredos matemáticos, das peripécias do cálculo Newtoniano, das
intimidades gravitacionais incompreensíveis para nosotros, pobres mortais.
Outra,
o ex (ai que peninha!) planeta, tem uma órbita serelepe, anárquica. Enquanto os
outros volteiam em torno do sol num traçado disciplinado, obediente (como se
fossem petecas contornando os quatro cantos da superfície de uma mesa), o
bonitinho viaja meio de ‘revestrés’. Se desenvolve num caminho inclinado com
relação ao restante dos planetas (como se fosse uma peteca em trajetória
cortando o tampo da mesa). A primeira lei de Kepler teria dado uma dor de
cabeça a mais ao cientista se ele, à época, tivesse tido o prazer de conhecer
Plutão. E esta órbita subversiva, com certeza,
inquietou bastante os bambambans da Astronomia, tão simpáticos às confortáveis
similitudes do cosmos.
Depois,
Plutão é um corpo celeste que está mais pra lá do que pra cá. É um ator da
periferia solar. Gelado que só ele, perturba os confins do sistema e “faz
fronteira com o infinito”. E, nos dias de hoje, quem, além da Regina Casé, dá
trela para estas peças da periferia? Os nossos sisudos homens do comando, é que
não.
E,
por fim, a determinante característica do pobrezinho, aquela que balou o little
planet do rol dos colunáveis. Era um planeta gitito. Taí, o mais contundente
gracejo de Plutão. Tem o nome no aumentativo, desafiando protagonistas mais
taludos como Júpiter ou Saturno. Mas é gito gito.
Creio,
porém, que o principal motivo da saída de Plutão foi uma interpretação
empobrecida, caduca sobre o que é democracia. Havia mais uns quantos astros na
mesma situação de Plutão, que poderiam, também, ascender para o status de
Planeta. Decidiram. Se não dá para os outros entrarem, não dá pra ninguém, e
pluft, Plutão virou Plutinho. Reproduziram a máxima cruel aqui da Terra. Mais
fácil sacrificar um, do que contemplar todos.