Torcida inflamada
É
fato dado e repetido aqui, que futebol, gosto é mesmo de jogar. Mas faz mina de
tempo que não entro em campo. A última vez foi um desafio pelo aniversário do
meu filho. Os amigos de papai contra os amigos do Argelzinho. Salão. Quadra do
Alegria. O destaque desse jogo folgazão foi a atuação extraordinária do meu
compadre Edir Gaya fechando o gol do nosso time em defesas instagramáveis. Por
outro lado, houve o incidente de uma cara branca que me derrubou logo nos
primeiros minutos de jogo. Fiquei só suspirando e com alguma dificuldade. Na
empolgação da hora, ninguém maldou gravidade naquela indisposição. Fui
substituído por uma amiga do Argel que figurava no plantel do outro lado, em
concessão que ensejou a nobre missão de completar os times. E o fute seguiu.
Depois daquele passamento nunca mais me arrisquei um instante que seja, em partida
de futebol, ainda mais porque na sequência dos fatos, me descobri cheio de
bronca nas coronárias, alterações no ergométrico, um cansaço! Eu heim, optei
por um zelo maior com o meu coração.
Do
jeito que gosto de futebol, e com as chuteiras penduradas, fui me ajeitando nos
atrativos do esporte e passei a prestigiar os jogos e bem mais pela TV. Sou do
tipo acomodado. Prefiro a TV mesmo. Tem replay. Além disso tem o sofazinho,
água gelada ou um cervejinha; banheiro, caso precise, sem fila e interação
pouca com desconhecidos. Sou assim, só fico de boa nas partes, se eu tiver
domínio do ambiente e das frequências. Me sinto mais à vontade, onde eu conheça
a maioria dos frequentadores do lugar. Já pensou um jogo em estádio lotado, com
25, 30, 50 mil pessoas? Piro total. Incomoda também meu baixo rendimento na
percepção das jogadas. Muito alarido, gente na minha frente, sou baixolinha.
Perco muitos lances e no estádio não tem replay.
Até
tentei. Há alguns anos minha filha me convenceu a ir com ela no jogo do
Paysandu com o Vila Nova. Avaliei, ponderei. Time de fora. Deve ser tranquilo.
Fomos recepcionados, logo na esquina do Chaco, com um cordão reforçado da PM,
de metralhadora e tudo. Cheiro de spray de pimenta no ar. Bateu o desespero e
na hora quis voltar pra casa. Decidimos por entrar no estádio. Não tive paz.
Durante o jogo era barulho de bomba e gritaria lá fora. Eu só pensando como
sairíamos dali. Imagina só alguém que, por questões já citadas, via pouca coisa
do jogo, nesse dia, não vi foi nada. Estava psicologicamente anuviado.
Entendo
a temperatura alta nas aglomerações em favor deste ou daquele time. A torcida
tem o direito de incentivar, dar moral pro time. A torcida merece ser feliz.
Ocorre que a massa inflamada, por vezes, sai da atmosfera da paz. O calor
evapora comedimentos, respeitos, empatias. E criam-se cenários tantos e outros
de animosidades. Mesmo quando o jogo é de torcida única.
Aconteceu
agora por esses dias, mais na minha cabeça, que no fato real, mas de forma
indicativa, ativadora de memória. Saí rapidola de cena, não acompanhei o
desenrolar das coisas, mas me chegou notícia que teve polícia distribuindo
borrachadas.
Uma
pena porque estava preparando o espírito para, pela primeira vez e dentro
daquele sentimento de valor histórico e tal, presenciar um jogo no Maracanã.
Fiz um ensaio. Foi ao Maracanãzinho. Acompanhei meu filho no jogo de basquete
entre Flamengo e Vasco. De manhã. Entrada permitida somente para a torcida do
Flamengo. Tudo no jeito. Deixa que, no último quarto, por causa de uma arenga
de jogo, a coisa desandou, a torcida do Flamengo se inflamou, jogou objetos,
água na quadra. O tempo nublou. O Vasco abandonou o jogo. Já fiz o sinal pro
meu menino pra aproveitar e saltarmos fora. Ele contemporizou. O custo foi um
cidadão soprar atrás de mim que aquela confusão poderia atrair a torcida do
Vasco para um tira-cisma lá fora (o que não aconteceu, óbvio). Levantei da
arquibancada na hora. Bora pro sofazinho, é que é.
Nenhum comentário:
Postar um comentário