Bigode de noivo de quadrilha
Mês de
maio é mês que me pego a bestar. Foi-não-foi me surpreendo olhando pro nada só
imaginando...
Quando
cheguei em Rondônia, para o meu primeiro emprego, reparei que todos os meus
companheiros de ofício tinham barba. Perecia a marca registrada dos geólogos,
técnicos de mineração, engenheiros de mina. A ostentação de pelo na cara era
quase parte do uniforme, era quase uma regulamentação do CREA, quase uma
qualidade curricular.
Todos
daquele grupo tinham barba. Menos eu.
Isso me
fazia pensar sobre esta distância que nos separava. Busquei justificativas.
Julguei ser a nossa origem, a causa deste meu caráter imberbe. Meus colegas
eram de outras regiões, a maioria do sul. Tinham outros costumes, outro ritmo
de vida; suprimento de proteínas, glicídios e lipídios, obviamente, diferente
do meu. Preocupações distintas. Podia ser também o calibre deles que era de
través o meu. Especulava e me sentia um peixe fora d’água, com aquela cara lisa
entre os brutos da floresta.
Aí,
teve, teve... O tempo foi passando e eu enfurnado naquela mata, fui ficando
mais taludinho. Tive acesso a uma dieta mais aquela de sustância e essência
(cevada, muita cevada na parada), diversifiquei meus comeres e beberes e acabei
me sentindo homenzinho com o aparecimento de um discreto bigode (parece que o
raquitismo era mesmo a causa da minha lerdeza capilar). Um risco, um traçado
tímido debaixo do nariz que já me valia. Já me avalizava entre os barbudos. Mas
não estava com essa bola toda. Tão apagada era minha penugem e tão empolgado eu
estava que os amigos, ao perceberem minha gabolice, logo me desencantaram,
taxando meus pelinhos de ‘bigode de noivo de quadrilha’, comparando meu
glorioso buço a reprodução que a gente faz no rosto da garotada nas festas de
São João, de suíça, bigode, barbicha, tudo desenhado com um cotoquinho de
carvão. Eu nem ligava pras pilhérias, tava era feliz com meu bigodinho
franzino.
Anos
depois, como sindicalista, já exibia um conjunto barba-bigode mais apurado.
Encorpado, diria. Não tão denso, e também, nem tão espaçado. Estava ali, no
meio termo com um clarinho infértil no ladinho do queixo. Não ficava devendo
nada ao estereótipo meio Nandertal que marcou uma geração de dirigentes
sindicais.
Muito
pela preguiça de estar me giletando todo dia e também por ainda guardar aquela
sensação de ser homenzinho de vera, no meio das feras, até hoje mantenho a
barba, mesmo que o termo e a conjuntura digam não.
Foi-não-foi,
em maio, me surpreendo olhando pro nada
só imaginando... E agora, depois de não sei quantos anos contados do meu
primeiro emprego em Rondônia e de minhas inocentes inquietações, me pego reconhecendo
minha barba branca, toda branca, grisalha, algodoada, nevada, alvinha, cinzinha
clarinha, cor de leite, cor de nuvem longe, cor de todas as cores, fios grises,
descoloridos, brancos...
E me
dei conta que minha barba branca me alerta para as resoluções irrevogáveis (e
irrecusáveis) do tempo.
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