Ouça um bom conselho
Amanhã,
aliás, só amanhã não. Todo dia. Isso mesmo, todo santo dia, assim que abrir os
olhos e ganhar o termo da manhã, abrace, beije, tome a ‘bença’, acaricie os
cabelos, peça um dengo, um chamego e faça uma declaração de amor a sua mãe.
Mesmo que o despertar seja às seis da matina sob uma chuvinha belemense e uma
morrinha compassada, faça isso. Este é o meu conselho.
A mãe
merece. A mãe da gente carrega dentro de si o instinto e a divindade: protege e
abençoa. Traz no coração o carinho e a bondade: aquece e perdoa. Cultiva na
alma a beleza e a humildade: ilumina e se doa.
Mãe
tem uma caixinha cheia de estrelas no colo e está sempre disposta a abri-la
para nos fazer felizes com infinitos céus acolhedores. Silenciosos de soluços e
das dores do mundo.
Por
causa das minhas investidas acadêmicas (e, por conseguinte, de umas produtivas escapulidas
lá pro boteco do Jorge), e também por umas interações culturais recentes,
alinhavei francas amizades com uma pá de gente jovem. A galera me visita (a
molecada fica horas namorando o meu três-em-um e devorando a minha coleção de vinil),
me convida para passear na Praça da República aos domingos (e depois emendar
para uns barzinhos lá da Cidade Velha), me cutuca para eu voltar a estudar ou
para eu me inscrever num edital aí de Literatura que dá uma grana boa e vai me
fazer ficar famoso que nem o Paulo Coelho. Já joguei malabares com eles, já
assisti a um show de Rock em point alternativo, já tomei uma bebida verde numa
taça chiquerérrima numa manhã de pouca grana e, por vê-los altaneiros além de
mim, já reinei em pôr uma perna-de-pau (porque, olha, com metro e meio de
altura, tem horas que até preciso). Temos uma relação saudável. Eu os admiro
porque são criativos, inteligentes, responsáveis e eles me admiram porque sou
um tiozinho legal às pampas. Temos também, confiança e respeito mútuos. Por
causa dessas cumplicidades cultivadas, eles muitas vezes me segredam mal’
criações e me pedem opiniões. É sempre a mesma coisa: conflito de gerações. A
mãe não entende. A mãe implica. A mãe não deixa. A mãe cobra. A mãe dá bronca,
e isso, e aquilo e aquil’outro.
Vêm
a mim, procurando o coroa gente fina pacas, moderninho, avesso às tradições,
sem frescura. Acho que, nessas horas, os decepciono. Quando põe a mãe no meio,
sou caretésimo. E isso, também aprendi com o meu amigo Edir Gaya, lá atrás nos
anos oitenta: Mãe, sempre em primeiro lugar. Devemos respeitá-la e priorizá-la.
‘A tudo, seremos sempre atentos, antes, a ela’. Discutir, brigar, ficar de
ponta com a mãe, Deus-te-livre-e-guarde. É pecado mortal. Deus ralha. Menino
vai pra trás da porta da Sé tesinho com a língua pra fora. Falo isso pros meus
amiguinhos. Eles ficam meio desapontados, retrucam, dizem que ninguém dá razão
pr’eles, que não são ouvidos ou coisa e loisa-mariposa. Tudo aquilo que minha
geração falava tempos atrás. Aí, é aquela coisa... Dou meus exemplos.
Não
que eu fosse um filho destrambelhado. Tirando aquele sentimento de independência,
compreensível, por ter começado a trabalhar cedo (tinha a minha grana, podia
comprar minhas coisinhas e isso me tirou um tantinho de rota. Era uma rodada de
chope de groselha todo dia pra molecada da rua. Aí, não tinha salário que aguentasse),
não tive tantos atropelos na relação com a minha mãe. Muito pelo contrário, não
perdia a chance de provar que a amava.
O
exemplo que dou aos meninos é a minha saudade. Há dias que preciso tanto de
minha mãe para abrir aquela caixinha de estrelas e me tirar os soluços da
vida...Mas...
Conselho:
ao raiar do dia corra pro colo da mãe...
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