A
Conta Estava Errada
Em
1650 o Arcebispo Ussher, um iluminado religioso irlandês, anunciou o dia, mês e
ano em que a Terra foi criada.
Por
aqueles dias, o Bispo cumpria a sua missão e respondia às inquietantes
perguntas sobre a criação, amparado nos contundentes e definitivos argumentos
que a severidade medieval permitia.
Ah,
e só para satisfazer a curiosidade, o Bispo declarou que a Terra foi criada na
noite de sábado, 22 de outubro de 4004 antes de Cristo. Pelos cálculos de Ussher
a Terra estaria hoje com 6 mil anos e uns caroços.
Hoje,
sabe-se pelos métodos mais modernos de datação que a Terra tem algo em torno de
4 bilhões e quinhentos milhões de anos.
Errou
feio, o zeloso Arcebispo irlandês.
O
que separa a cronologia bíblica de Ussher dos métodos de datação radioativa; o
que representa o divisor de água (para usar um elegante termo da geomorfologia)
da concepção religiosa sobre a criação e as explicações modernas para a
formação da Terra é exatamente o
aparecimento da Geologia como ciência.
É
a partir do ‘estudo da Terra’, da busca pelo entendimento dos fenômenos com
bases racionais que a Geologia passa a responder às perguntas mais intrigantes
e a confirmar as nossas mais inocentes impressões.
Por
que a água do mar é salgada? Por que nem tudo que reluz é ouro? Por que o ímã cola na geladeira? Para onde é
o Norte? Por que a maré vai e volta? Por que acontecem terremotos, maremotos,
vulcões? Tsunamis? A Terra tá aquecendo mesmo? Houve um começo? Haverá um fim?
Estas
são perguntas que começaram a ser respondidas, ainda na idade média, por ilustres
naturalistas como Nicolau Steno, Abraão Werner, James Hutton, Charles Lyell, Lorde
Kelvin, Charles Darwin.
E
que podem ser respondidas, hoje, pela Ana Tayla e pelo Jorge Augusto, promessas
de uma nova geração de Geólogos que está sendo produzida pela UFPA.
Na
próxima quarta-feira, comemora-se o Dia do Geólogo.
Durante
um bom tempo, convivi com estes profissionais. No início da década de 80,
quando saí da Escola técnica formado em Técnico de Mineração, estava predestinado
a compartilhar muitas aventuras com os Geólogos.
Naquela
época as atividades eram concentradas mais no âmbito da exploração mineral e
data desta fase a imagem imputada aos Geólogos, de depredadores, de
consumidores vorazes do meio-ambiente. O que não é verdade. Os Geólogos, pelo
menos aqueles que eu conheci e que até hoje me são caros, são pensadores, são
criadores e por vezes, são recriadores.
Profissionais
como Luiz Gilberto Dall’Igna, Roberto Moscoso de Araújo, Sérgio Kleinfelder
Rodriguez, Hélio Ykeda, Amado Mota, Ronan Barbosa, Clóvis Mautity, são
personagens que passaram pela minha história no papel de grandes mestres,
grandes orientadores. Entusiasmados e apaixonados por uma ciência que tem a
missão de “cuidar das feridas da Terra”.
Jorge
e Aninha são da turma de Geologia de 2004. Nos primeiros dias de aula, éramos
os únicos a dar as caras pela Federal. Ficávamos trocando prosa pelos
corredores. Foram os meus primeiros amigos no curso.
Escolhi
estes dois jovens colegas para serem os depositários da modesta homenagem que
faço aos Geólogos, que comemoram o seu dia no próximo dia 30 de maio.
Daqui
a um tempo, Jorge e Aninha serão Geólogos formados. Terão a responsabilidade de
responder, nas circunstâncias mais diversas, por que a água do mar é salgada.
Terão a missão de manter o entusiasmo pela profissão pregado pelo mestre
Roberto Moscoso. Terão a tarefa de reiterar, com a dignidade herdada dos
naturalistas, que a conta do Arcebispo Ussher, estava errada.
Grande Sodré.
ResponderExcluirQue bom receber notícias.
Abraços
Fernando Bispo (Mineração Oriente Novo, lembra?)
Meu e-mail: fjbispo@yahoo.com.br