Um poema pra Belém
Quer ver a gente dar o maior valor na terra da gente, é só passar uma temporada fora. Quer atinar para os mínimos detalhes, coisinhas que na convivência diária, a gente passa batido ou até despreza, é só ganhar o trecho por um bom tempo. Aí a gente sente na alma, o quanto dói uma saudade.
Meu pai do céu, como me bati com esta dor! Quando saí de Belém, pela primeira vez, era um bebê. Tinha 19 anos e nunca havia saído debaixo da saia da minha mamãe. Sofria horrores. Ficava revirando a memória, enfeitando passagens nem tão significativas assim na vida, revivendo momentos brilhantes. Ajeitando um jeito de sentir saudade e imaginando a hora de voltar (contando os dias. Na primeira fase de Rondônia, foram 404 dias marcadinhos na folhinha, até as férias).
Foi-não-foi, eu me via mergulhado numa saudade devastadora. E a gente inventa cada moda: eu que nem sou assim tanto de tomar tacacá, emburrava e morria de pavulagem em Rondônia porque o tacacá que eles faziam lá, não era de responsa e a gente ainda tinha que se encher de frescurite pra pegar o jambu com palitinho ou com garfo (nananina do dedo em pinça, que aliás, é um rito inabalável aqui). Camarão então. Se em Belém, o camarão já rareia avalie por lá, a 2 mil quilômetros do mar.
A gente se supera. Qualquer brisa é motivo de nos empurrar para o banzo. Até da algazarra dos urubus do Ver-o-Peso, eu sentia falta, sério.
Minha mãe era minha companheira na distância. Nos comunicávamos por carta (e a letra da mamãe era, verdadeiramente, um acalento, um afago macio, um consolo de longe, de tão linda e esmerada que era). E era tudo nos conformes, com envelope, selo, destinatário, local e data no cantinho, margem, tudo pontuado direitinho, signatário subscrito ‘com o carinho da mãe’ e um manchadinho de lágrima. Todo mês, a mamãe ainda me fazia um agrado. Montava um kit e enviava pelo correio pra mim. Uma cesta com o triunvirato do guaraná: Garoto, Vigor e Guarasuco (até quando este, que estava em todas, resistiu), um exemplar do PQP; kilo, kilo e meio, por aí assim, de farinha de tapioca; um vidrinho de qualquer essência colorida das erveiras, uma cerâmica de Icoaraci, e pelo Círio, sem errada, me mandava um roque-roque.
Os amigos também faziam a ‘pré’. Certa vez, ganhei um cartão postal que tinha um apelo visual tão forte, tão envolvente, que até hoje ainda me tira de rota. Retratava um lote de pimentas de cheiro multicores, em uma composição extraordinariamente harmonizada. Numa das minhas férias, em Belém, perdi este cartão, ali pela Presidente Vargas. Um choque. Lamentei profundamente a perda daquela obra de arte.
As férias sempre acabavam... E eu tinha que voltar. Aí, o sofrimento se multiplicava. A volta me causava um sentimento de perda insuportável. Eu me via de dor. E passei anos da minha vida assim, recitando um poema pra Belém, com lágrimas nos olhos: “Tiau, Belém/Minha terra, mãe, eu vou partir/ É chegado o momento de sentir tristeza/ Esta lágrima no rosto é minha saudade/ Ver-o-Peso, vento forte/ O cheiro da cidade vai até/Um belo dia eu te reencontrar/ E de novo te mimar na minha poesia/ Te cantar e te contar/ O quanto tu cativas/ O menino que no mundo/ Só se vê voltando/ para ti/ Tiau Belém/Que outra rima te faça mais bem/Que meus versos melancólicos de despedida/Que em outros campos, minha morte/ Seja tua vida/Chuvas às três, a maresia, minha namorada/Vou partir/ Comigo vai/Tua canção lembrança e companheira/A história, a infância pedreirense e o meu Paysandu/Na bagagem, os amigos, gozos e alegrias/Minha graça/A minha voz/ E a vontade de ficar/Tiau Belém”.
oi sodré, adorei a cara do blog, ficou bem legal com essa foto de belém. entrei de férias hoje. acho que vou poder voltar as minhas visitas aos blogs!!!! thau
ResponderExcluira foto é da beira-rio de Xapuri, uma cidade encantada do coração do Acre e é de autoria do artista e bom acreano Sérgio Souto
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