Resoluções
Diante dos pliques que grassam pelas mídias anunciando o fim do mundo agora para 2012, minha querida mãe Luzia, se ainda conosco houvesse, replicaria com toda a sabedoria: “O mundo não se acaba. Quem se acaba é a gente”.
Sempre cri no animus materno e assim, amamãezado que sou, acredito na longevidade do planeta. Até hoje guardo este ensinamento de Luzia (abonado inclusive, pela Geologia e por ciências afins: mamãe não dava ponto sem nó). Certo é, que pelas evidências deixadas nesses bilhões de anos pretéritos, o mundo tá garantido; enquanto a gente, ó, a gente vai levando, né, até quando Deus quiser.
Temos tempo. Considerando mais uns bilhões de anos daqui por adiante (pelo menos 7 bilhões, né, que é a expectativa de vida do sol), vamos tocando em frente. E nos aviando para as resoluções que temos que providenciar neste ano que está aqui, na biqueira.
(Antes de revelar quais as minhas metas para 2012, confesso um mico: há muitos anos, folheando um gibi, dei com uma historinha do Peninha. Era uma briga dele para cumprir as resoluções de ano novo. Até aí, tudo bem. Só, que há muitos anos, eu era um moleque meio raquítico de palavras, de pouca envergadura no vocabulário e não sabia o significado da palavra ‘resolução’. Conhecia ‘revolução’, porque sempre fui comunista, agora estazinha, não. Mas li os quadrinhos até o fim. Intuindo, tomado por desafios e descobertas. Até que saí deles entendendo que, o que o Peninha fazia era listar e admitir alguns objetivos a serem alcançados no ano novo. De lá pra cá, melhorei bastante. Hoje eu já sei o que quer dizer ‘resolução’. Numa linguagem mais moderninha, pode-se traduzir por ‘ater-se a um foco’. Por outro lado, nem me mordo, por um dia ter sido raquítico nos dizeres. Quando não se tem haveres e saberes, o instinto cuida).
A minha listinha é distinta. Separo desejos, de missões, de urgentes e impreteríveis decisões. Destas, vou falar aqui das pessoais que são as mais graves, porque sem elas, nada feito. Tenho um compromisso comigo de perder uma arroba e meia. Ontem quase dei um chiliquito quando subi na balança. O ponteiro tomou distância e se lançou no rumo das dezenas de milhares de gramas. Sessenta e nove mil, para ser mais exato. Vale dizer que tenho suficientes, mas, no caso, perigosíssimos 15 decímetros de altura. Estas coordenadas indicam que minha massa está tão isotropicamente distribuída (tipo: sou baixinho e tô barrigudinho e larguinho), que se eu cair eu rolo, feito uma esfera de aço num jogo de corre-atrás na tabatinga lisa da antiga Marquês. Não bom, isso. Então, para o ano, o meu foco é viver uma vida mais saudável, fazer algum esporte (fora o levantamento de copo e o embalo na rede), comer coisas que valham e, por tabela, ficar saradinho. Vou cuidar da cabeça, também. Quero escrever mais e melhor, e ler mais do que este ano que se encerra. Pro lado do aconchego, quero aproveitar este momento maravilhoso da adolescência dos meus meninos e varar muitas madrugadas interagindo com eles. Percebendo os anseios deles, descobrindo inofensivos segredos, contando causos, ouvindo Amaranta Maria cantar "Someone like you" e Argelzinho, entre suspiros, declarar-se apaixonado. Ah, o amor. E por falar em amor, vou comprar um paletó nos trinks, também. Quero estar lindão na festa da minha companheira Edna Nunes, que agora, nas calendas de março, celebra a vitória, colando grau em Matemática.
Já a minha lista de desejos é grande. Mas o principal deles é viver os anos novos crendo, assim como creu minha mãe, na eternidade. Minha mãe não dava ponto sem nó.