Presente Padrão
Pra
gente ver né, como tudo concorre. Juro que nem maldei, não liguei lé com cré ou
fé com pé. Foi coincidência. O fato se deu exatamente no período em que o curso
de Mineração da Escola Técnica comemora 50 anos de criação, (perdão, hoje é
IFPA, mas não desatarracho da notação que fez a minha vida mudar de rumo: ETFPA)
Calhou
que antes de sair para um happy hour no sábado passado, lembrei que minha
anfitriã tinha mudado de idade dia desses e mais que depressa me aviei no
presente. Mimo no padrão. Com a minha marca. É batata. Ou dou um livro, ou uma
pedra. Catei lá nas minhas preciosidades um fragmento de rocha (que é o nome
apropriado para designar a peça, e não pedra) dos mais simbólicos que tenho no
meu acervo (minha amiga Paty merece e muito uma prenda plena de significados).
Abriguei numa embalagem de presente e, sob protestos da família (aqui em casa
ninguém acha que uma pessoa vai se engraçar por ganhar uma pedra, ou um fragmento
de rocha, que seja), mantive a opinião. Deu foi bom. Na hora que entreguei a
lembrancinha, fiz um arrazoado técnico, histórico e sentimental. Minha amiga se
disse encantada, ainda mais quando mostrei que se lançada a luz da lanterna
sobre o grãozinho, tudo nele brilha com aquela idiossincrasia doce do açúcar.
Depois,
contextualizando, vi que poderia argumentar o presente como fazendo parte do
clima pela criação do meu curso. Afinal, foi lá que aprendi a dar valor aos
elementos minerais e, nos adiantes da vida tento partilhar, nos limites, esta
admiração por esses componentes naturais tão surpreendentes e reincidentemente
belos.
Sou
da turma de 1979. Só aí são 46 anos do curso. A minha turma foi uma das
primeiras a se formar. Sei disso porque, por ser uma novidade na oferta de
cursos à época, este detalhe pesou para a minha escolha.
Fiz
opção pela Escola Técnica muito pelas dicas de nossa vizinha de parede-meia na
Vila Mauriti. Tinha dois filhos estudando lá. E eles traziam as novidades.
Falavam de um curso novo bem aceito pelas empresas da região. Todos os alunos
que conheciam de Mineração já tinham estágio ou emprego garantido. A possibilidade
de trabalho logo de prima era um atraente imbatível. Nem dei muita trela pros
requisitos quando fui fazer a inscrição no curso (que diziam que o candidato,
além de ser bom na matemática e ciências afins, deveria ter disponibilidade
para viajar, viver em áreas inóspitas, ter boa resistência física, adaptação a trabalhos
noturnos; estar sujeito a doenças endêmicas, administrar equipes no campo, além
de outros desafios). Foram 7 semestres de uma vivência substanciosa.
Na minha vez, o curso já tinha seus 4 anos de funcionamento. Havia uma estrutura, um quadro de professores aplicados, e um esforço para que o recurso satisfizesse as necessidades de aprendizado. Não era fácil. Necessitávamos de equipamentos, instrumentos, viagens de campo. Percorremos o caminho até a formatura travando lutas contínuas por melhorias. No entanto, do que tínhamos, aproveitamos bem. Quando entrei pela primeira vez no nosso laboratório, fiquei maravilhado. (Por aqueles dias ainda se podia chamar de pedra). Tanta pedra bonita! Cristais, rochas de tudo quanto é jeito, um elenco notável de fósseis. Os microscópios que aumentavam a beleza dos testemunhos, as fórmulas e as reações químicas dos minerais, o uso do ácido, das lupas, da unha... nossos desenhos, a maneira como pensávamos a Terra e seus segredos... Era tudo novidade e sedução. Houve um tempo, já trabalhando na área que, toda vez que vinha a Belém, passava pela Escola e deixava uma amostra para o acervo do laboratório. Até um topázio imperial lindão eu doei pra Escola. Talvez seja essa a natureza deste meu baque de sempre dar de presente um mineral, uma rocha de traços autênticos. Talvez seja para ratificar a importância que o curso de Mineração teve pra mim. Pôs até hoje, o di cumê na minha mesa.
essa foi pedrada!
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