Hauhsuahsuashua
Uma
vez, num episódio do Batman (aquele que passava na TV, lá pelos idos de setenta
e poucos e que era estrelado pelos atores Adam West e Burt Ward), o Charada
armou uma parada federal para o homem morcego. Deu um nó humano que envolvia
mortalmente o Batman, o Robin e a ‘Batguel’. O capítulo terminava com aquela
cena sufocante. Os três heróis emboletados e, segundo a descrição da artimanha,
feita pelo malvadão do Charada, não podiam fazer o mínimo movimento pois que se
o fizessem, provocariam um colapso dos
órgão internos e morreriam asfixiados. O que acontecerá? Não percam o próximo
episódio, atiçava o narrador com uma música pessimista de fundo.
No
dia seguinte, a molecada da rua tava num pé e noutro pra vizinha abrir a
janela, para se aliviar um pouco do mormaço da tarde, e nos propiciar o
desfecho daquela presepada. O programa começava com as cenas do capítulo
anterior, dava o reclame, e depois reiniciava mostrando aquele bolinho de
super-heróis encalacrados. Todo mundo na torcida, para o afogueado da tarde
continuar e consequentemente, a vizinha permanecer se espairecendo com a janela
aberta e para o paladino de Gothan City arrumar uma saída para aquela armadilha
fatal.
A
sequência jamais saiu da minha cabeça. Não poderiam envidar qualquer movimento
brusco, senão ploft, apagariam para sempre com falta de ar. O Batman, então,
arrumou a solução (depois, é claro, de muitos exercícios de lógica, de
reflexões sobre a fisiologia humana, e de um resgate mental criterioso sobre
todos os tipos de nós registrados no manual do escoteiro mirim). Instruiu, com
palavras custosamente articuladas no canto da boca, o garoto prodígio Robin,
para que movimentasse muito lentamente a falangeta do dedo mínimo da sua mão
esquerda (que estava não se sabe bem aonde), enquanto ele, ao mesmo tempo
flambaria a orelha direita, valendo-se da alta flexibilidade do material com
que era confeccionada a bat-máscara. À batguel, caberia sincronizar a sua
respiração na mesma freqüência em que a bat-orelha do nosso herói vibrava.
Música de suspense. O que acontecerá? Um instante depois os três desabam um
para cada lado, livres do nó mortal. Éraste, a galera vibrou e a vizinha fechou
a janela porque achou que aquela alegria já estava virando uma algazarra de
intenção irônica e poquista.
Lembro
sempre deste episódio do Batman, quando estou teclando na internet e recebo de
volta uma coisa assim ó, ‘hausuahsauas’. Bom, ou é quase isso. Não consigo
reproduzir esta construção fielmente. Mas é um casamento de ás, agás, ús e ésses que procura simbolizar um
sorriso ou uma alegriazinha passageira de quem está teclando. Com os meus
filhos, ou com amigos mais novos, no msn, sempre recebo um retorno com esta
arquitetura. Aí, bateu a curiosidade. Perguntei para alguns se eles digitam
isso ou já tem um comando pré-moldado para o trançado de letras (porque olha
só, é difícil. Procuro aqui no teclado e vejo a distância entre os tipos. Pô,
isso nos bons tempos seria digno de um exercício bem caxias, na aula de
datilografia da professora Mariazinha).
Mas tentei, outro dia, sob a supervisão de uns quantos instrutores, eu
tentei. Um dizia: “divide o teclado. A mão esquerda sobre ‘a’ e ‘s’, e a
direita sobre ‘h’ e ‘u’, vai lá”. Outro desafia: “agora clica na seqüência”.
Mas quando, já! Um mais impaciente já avacalha: “clica em todos ao mesmo
tempo”. Desisto. Nem a professora Mariazinha conseguiria. Lembro do
Batman, tento flambar a minha orelha
esquerda e entro no Google para saber qual desses ossinhos da mão é falagenta,
quem sabe me adianta de alguma coisa. Oh, meu Deus, cadê meu manual de
escoteiro?
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