Pedreira Jazz Pedra Noventa
Na
quarta-feira passada, ouvimos pela primeira vez a nossa música no rádio. Foi no
programa A Feira do Som, do Edgar Augusto. Depois daquele dia, a música entrou
na programação da rádio Cultura, tem tocado bastante e o pessoal tem é gostado.
Pedreira
Jazz Pedra Noventa é uma parceria minha com meu compadre Edir Gaya. Foi
apresentada pelo Edgar com muito respeito, citando os autores, os músicos, o
arranjador, o objetivo da canção. Em outras palavras, Edgar cortou e arou. Deu
aquela força. Dar um empurrãozinho, divulgar, contribuir com a prata da casa é,
ressalte-se com toda a justiça, o eixo condutor do programa A Feira do Som, nos
anos contados tantos que ele tem no ar.
Ficamos
meio ansiosos para o lançamento, eu e meu compadre. Assim, meio parecido
meninos bestas. Não diria que foi um sonho realizado. Ter uma música gravada
não é novidade para nós (temos pelo menos mais duas). Mas essa foi especial.
Investimos mais que das outras vezes nela. Chamamos a genialidade de Renato
Torres para vestir de cores nosso som. A cada dia que a gente ouvia um avanço
no arranjo, a animação crescia. Sabíamos exatamente o que queríamos. Queríamos
uma música para tocar no rádio. E para isso, fomos rigorosos na nossa
construção. Nos aviamos nos detalhes.
Tudo
pronto para o lançamento, ao grande gênio, a honra de interpretá-la. Meu
compadre, já falei isso por aqui, é um Midas. Tudo que ele toca vira ouro. O
poder que ele tem de criar belas melodias é inesgotável. Um modelador de tons e
ritmos, notável. Mas nunca tinha se aventurado a cantar. Essa talvez fosse a
nossa inquietação inconfessa. Embora para mim, que sou leigo na parada, nas
primeiras audições, estivesse tudo bem, meu compadre foi radical na
auto-crítica. Gravou outra vez, Renato apelou para uns ajustes tecnológicos e
aí sim, o vozeirão do homi ficou no jeito.
Dá-se
então que a música, da forma que ela está, com os elogios que ela vem
recebendo, que eu interpreto como um confortante e circunstante sucesso, a
tenho como um presente. Um regalo merecido ao meu melhor amigo, ao meu amigo
desde que eu tinha 16 anos, ao meu grande ídolo Edir Gaya. É tudo dele e pra
ele. Inclusive a responsabilidade de responder pela nossa canção.
E
por causa disso, dessa responsa, a gente já arrebentando nas paradas de
sucesso, meu compadre me liga altas horas da noite preocupado porque tinha que
dominar o enredo da canção, “onde era mesmo o Pedra Noventa?”. Embora a gente
tenha conversado sobre a letra, o traçado sentimental do texto é meu, né. Vamos
lá então, conhecer um pouquinho do igarapé do Zé, do Jazz e do pedra Noventa.
O
poema e o Jazz
No
início dos anos setenta, o bar Pedra Noventa (que tinha esse nome por causa da
última pedra do bingo, a maior) era ponto de encontro de várias tribos. Era um
bar deslocado do eixo movimentado da Pedro Miranda, mas tinha seu charme, sua
clientela cativa. Era também, um dos poucos lugares na Pedreira que tinha um
telefone público. No meu imaginário, o bar era vanguardista, moderno. As coisas
aconteciam por lá. Não sei bem por que penso assim, mas tenho pistas. Meu tio
fazia parte de umas das tribos do bar. Morávamos na Marquês, e parte dos jovens
da rua se reunia por lá. Depois dos encontros, ouvia meu tio falar de músicas
internacionais diferentes, comentava as artes de um tal de Santana, elogiava
grupos como Creedence, Lafayete... Essa era a conversa que eu ouvia. Então para
mim, no Pedra Noventa, ouviam-se sons diferentes. Daí, desses sons distintos, para
o Jazz, foi um pulo. No meu poema, o balcão Pedra Noventa canaliza os
improvisos, a alegria e a sofisticação do Jazz retratado em cada ritmo novo,
ousado que tocava ali.
O
igarapé do Zé
O
vento que traz o Jazz já é uma inclinação minha para o bucolismo que naquela
época ainda vingava ali por aquela esquina. Até hoje, este ventinho de fim de
tarde ainda é sentido em toda essa região da baixa da Pedreira. Na falta de uma
explicação lógica, atribuí a formação deste arzinho da tarde, à densidade das
matas da aeronáutica, que margeiam a Dr. Freitas e delimitam a cidade na
primeira légua. Ali nasce o igarapé do
Zé.
O
igarapé do Zé é uma licença poética. Um devaneio, um desejo contido. Mamãe
jamais deixou que eu fosse pra lá. Mas a molecada ia. Às vezes chegava bem
perto, sentia a mudança de temperatura ali à margem da Dr. Freitas. Mas não
entrava na mata não. Era menino obediente. Sabia que pra’li, havia um mundo
encantado donde a Matinta reinava. E que lá coisas maravilhosas se realizavam. Mas
não podia ir lá. Mamãe ralhava. O igarapé do Zé é uma vontade minha não
concretizada. Uma aventura que vive só no meu cocuruto. E a maravilha que se
impõe de lá aos quatro cantos, reinterpreto hoje como sendo este vento gracioso
que nos afaga todas as tardes.
Então
é isso. Se um dia a gente ganhar o Grammy com esta música, já está tudo na
ponta da língua.
Ah,
e tem a música de meu compadre (Edir Gaya é meu compadre. Sou padrinho do filho
dele, Gabriel. Fiz curso e tudo, com a pastora Marga Rothe; e ele é padrinho de minha
filha Amaranta, ou seja, estamos emaranhados nas teias do compadrio). A música
é deslumbrante. Certa vez, estava ouvindo a música, fiquei tão encucado com
aqueles andamentos pra lá de assimétricos que enviei para um amigo meu
entendido de tudo, para que me explicasse aquela singularidade, aquela
estilística melódica. Né querer falar. É uma melodia jazzística da gema, coisa
do Mississipi.
Nossa
música tá rolando. É single do disco que meu compadre quer lançar. E vai
trilhando caminhos para o Grammy. Tem um quê que atrai a gente. Não sei definir
o que ela é. Para mim é um Jazz, mas minha amiga Mylena Santana, que bate um
pandeiro bem que só, ouviu e definiu da forma que mais aprecio. Diz Mylena que
é uma letra de carimbó encaixada numa mini-sinfonia. Concordo.
CAMARADA, PASSEI HOJE O DIA TODO OUVINDO SUAS MÚSÍCAS NO VINIL. "TE PARAFRASEANDO", VC É LITERALMENTE DE UMA REALISMO FANTÁSTICO!!!!
ResponderExcluirRobério Araúlo - subvercine@yahoo.com.br face https://www.facebook.com/profile.php?id=100005350896650
CAMARADA, PASSEI HOJE O DIA TODO OUVINDO SUAS MÚSÍCAS NO VINIL. "TE PARAFRASEANDO", VC É LITERALMENTE DE UMA REALISMO FANTÁSTICO!!!!
ResponderExcluirRobério Araúlo - subvercine@yahoo.com.br face https://www.facebook.com/profile.php?id=100005350896650
Mano Sodré,
ResponderExcluirJá tinha lido à época, mas calhei de reler essa tua crônica reveladora, afetiva, sincera, mnemônica, passados cabalísticos sete anos de quando lançamos o single de “Pedreira Jazz Pedra 90” - também o tempo em que (per)dura esse meu projeto musical e passional, o Guamundo Home Studio. Pois é: o Edir é padrinho do estúdio onde gravamos seu incrível álbum “Liamba, Jazz e Samba”, que já conheces bem, e do qual todos nós aguardamos o lançamento... será agora? Espero que sim! Mas enquanto isso não acontece, é um prazer revisitar tuas linhas e tuas memórias. É uma honra pra mim que o grande Gaya tenha confiado a mim suas maravilhosas e irrepetíveis canções! Abraços, mano! E bora fazer uma parceria qualquer hora dessas!